Novo Testamento. Introdução I.

1. Apresentação do Novo Testamento

Bíblia Sagrada.
Novo Testamento.
Foto: acervo do autor.

Inicialmente, neste estudo do Novo Testamento, abordaremos confiabilidade, origens, formação e redação, expansão a todos os povos e canonicidade.

Assim, pela grandeza da matéria, não será possível exaurir tudo em um “post”, razão pela qual está é a parte I.

Quando possível e necessário, avaliaremos a relação da Boa Nova com o Antigo Testamento.

Frequentemente, abordaremos também o processo de construção.

Neste estudo, explicaremos o que são os Evangelhos Sinóticos, os Escritos Joaninos e Paulinos e as diferenças de posicionamento deles, bem como as Cartas e o Apocalipse e as diversas formas de interpretá-los.

Acima de tudo é importante que o estudioso saiba que o Novo Testamento é o resultado de um processo de formação de memórias coletivas e reconhecimento muito moroso.

De modo que a formação dos livros foi decorrência de um longo processo de tradições orais e escritas.

De outra forma, o reconhecimento foi o alicerce para a consolidação da fé das primeiras comunidades cristãs nos quatro primeiros séculos.

Enfim, o não conhecimento da forma como se desenvolveu o Novo Testamento impossibilita a compreensão plena das mensagens e temas neotestamentários.

2. Quanto aos Livros do Novo Testamento

Os 27 livros foram reconhecidos pelas comunidades cristãs nos quatro primeiros séculos depois de Cristo e são:

1) Mateus, 2) Marcos, 3) Lucas, 4) João, 5) Atos, 6) Romanos, 7) 1 Coríntios, 8) 2 Coríntios, 9) Gálatas, 10) Efésios, 11) Filipenses, 12) Colossenses, 13) 1 Tessalonicenses, 14) 2 Tessalonicenses, 15) 1 Timóteo, 16) 2 Timóteo, 17) Tito, 18) Filemon, 19) Hebreus, 20) Tiago, 21) 1 Pedro, 22) 2 Pedro, 23) 1 João, 24) 2 João, 25) 3 João, 26) Judas e 27) Apocalipse.

Repita-se que o Novo Testamento não foi escrito de uma única vez.

Apesar disso, não há diferença entre a Bíblia Católica e a Bíblia Protestante.

Os livros foram sendo escritos na medida que os testemunhos orais, juntamente com as tradições escritas de pequenas proporções, fossem finalmente concluídos, ou seja, foi um longo processo de formação.

Seja como for, os 27 livros que compõem o Novo Testamento foram escritos originariamente em grego.

Mas apesar da supremacia da língua grega, há uma pequena parte em aramaico, não podendo afastar a influência hebraica.

Porém, há uma pequena divergência quanto ao que foi dito acima no que se refere ao Evangelho de Mateus, em que parte dos estudiosos alegam que este livro foi escrito originalmente em hebraico, mas esta corrente é minoritária.

3. A Formação do Texto do Novo Testamento

Primeiramente, a palavra Testamento, para os hebreus, significava a “aliança” que Deus tinha firmado com o seu povo, representado por Noé, Abraão e Davi.

Mas durante o Antigo Testamento já foi possível antever a Nova Aliança.

3.1 A Profecia de Jeremias

De acordo com o texto bíblico, o profeta Jeremias, por volta de 600 a.C., profetizou acerca de uma Nova Aliança, diferente da primeira.

Veja-se:

³¹ Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá.

³² Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
³³ Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
³⁴ E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.

Jeremias 31:31-34

Imediatamente, o estudioso observará a força tem esta profecia do profeta Jeremias com os acontecimentos que viram tempos depois.

Da mesma forma, observamos também a relação com a Lei de Amor e de remissão dos pecados que seriam trazidas por Jesus Cristo.

3.2 A Nova Aliança por Jesus Cristo

Analogicamente, Jesus, na última Ceia, se referiu a seu sangue como Nova Aliança.

²⁶ E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo.
²⁷ E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos;
²⁸ Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados.

Mateus 26:26-28

Ao passo que o discurso de Jesus pode mesmo ser entendido como seu Testamento.

O que melhor poderíamos receber, o amor de Jesus e o Seu perdão.

4. Das Escrituras Sagradas ao Novo Testamento

De antemão, antes do Novo Testamento, ainda durante os primeiros anos do Cristianismo, as Escrituras Sagradas eram as “Leis e os Profetas”.

À primeira vista, estas “Leis e os Profetas” eram a “Bíblia de Israel” usadas na Liturgia das Igrejas.

Igualmente, a “Bíblia de Israel” prevalecia também para o Judaísmo.

Dessa forma, o movimento cristão primitivo foi moldando suas primeiras tradições, fórmulas e hinos, através das “Leis e os Profetas”

Finalmente, após estes movimentos, surgiram as primeiras reflexões sobre a natureza do Cristo e a salvação.

Juntamente com o uso destas Escrituras Sagradas, a circulação de tradições orais atribuídas a Jesus passou a propagar na forma escrita.

Adiante, com a continuidade dos estudos, veremos que a partir de 50 d.C., Paulo começou as suas grandes viagens, divulgando o Cristianismo pelo Império Romano.

Logo depois, surgem as Igrejas Primitivas e Paulo empenha-se a escrever cartas às comunidades onde existiam estas Igrejas, ensinando, orientando, resolvendo questões que surgiam e necessitavam se adaptar à nova ordem cristã.

Nesse sentido, as cartas foram as fontes mais antigas para o estudo da História do Cristianismo.

Finalmente, a partir de 60 d.C., os Evangelhos começam a ser redigidos.

Em conclusão, os Evangelhos formam um gênero literário que não tem a intenção meramente biográfica, mas também um contexto teológico e catequético para as comunidades cristãs.

5. Contextos do Novo Testamento

A Criação do Mundo
A Criação do Homem – Michelangelo – Retratação da passagem bíblia.
Fonte dsw.aau.edu.et

Em primeiro lugar, este autor sempre chamará a atenção tanto dos cristãos como de ateus e agnósticos para a realidade do poder que emana do nome de Jesus Cristo.

Em outras palavras, em nome de Deus muitos mataram e muitos enriqueceram e ainda enriquecem.

Ou seja, usa-se o nome de Deus para o bem,  mas também para fazer o mal.

Desta forma, o estudo do Novo Testamento tem que ter por base não somente a fé, mas a inteligência.

Inteligência esta que nos foi dada por Deus e confirmada por Jesus Cristo, como descrito na Bíblia.

⁴⁸ Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.

Mateus 5:48

²⁶ E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.
²⁷ E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Gênesis 1:26,27

Sendo assim, é importante que se conheça verdadeiramente os diferentes contextos dos Evangelhos e das Cartas, evitando que o cristão seja um mero repetidor do que ouve.

Em suma, por meio do conhecimento verdadeiro, ou ao menos por meio da busca por este conhecimento, o cristão evitará de ser manipulado.

Assim, percebemos a existência dos seguintes contextos na formação e propagação dos Evangelhos:

  1. Contexto eclesiástico;
  2. Contexto teológico; e
  3. Contexto político.

Estes contextos serão estudados em uma próxima oportunidade, sendo importante registrar as diversas formas de se analisar os textos bíblicos.

6. Provas do Reconhecimento da Anunciação do Novo Testamento pelos Cristãos

“Papiro 52” exposto na Biblioteca John Rylands, Manchester, Reino Unido, é o mais antigo de um evangelho canônico já encontrado.
Fonte: The Center for the Study of New Testament Manuscripts

Datado de 125 d.C., encontrado em 1920, por Bernard Grenfell, no deserto do Egito, está o “Papiro 52” com o trecho de João 18:31-33, 37-38. C.H.

Fragmentos de 1QIsa, O Grande pergaminho de Isaías, escrito pelos essênios, datado de 100 a.C.
Foi um dos sete manuscritos primeiramente descoberto por Beduínos no deserto de Qumran em 1948.
Fonte The Leon Levy Dead Sea Scrolls
 

Segundo o historiador R. E. Brown, somente no Século II encontramos evidências de cristãos chamando seus escritos de Novo Testamento.

7. Curiosidade

Acima, trecho de inscrição encontrada em Priene datada do ano 9 d.C. Lê-se: “[…] O aniversário do deus Augusto foi o começo do euangelion para o mundo”.
A descoberta é parte de um calendário que trata do dia do Nascimento de César Augusto, com o termo euangelion a chamar a atenção porque também é um termo usado pelos cristãos.
Inscrição encontrada em Priene, na Ásia menor. Fonte: JKDOYLE.COM

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