Apresentação
Por mais inusitado que pareça, a caligrafia de Paulo inspira curiosidades teológicas relevantes.
Paulo foi responsável por propagar o Cristianismo por todo o Império Romano, mas alguns dos seus textos têm, ainda hoje, a autoria questionada.
Não falaremos aqui especificamente sobre o Apóstolo Paulo, esta parte caberá aos estudos sobre a História do Novo Testamento.
Nesta postagem, procuraremos nos limitar a curiosidade sobre a caligrafia de Paulo e por quem os seus textos eram escritos.
Constantemente vemos pessoas que não acreditam em Deus, ou até mesmo gnósticos, questionarem sobre determinados textos da Bíblia sem atentarem a detalhes que são primordiais em qualquer análise técnica ou mesmo crítica.
Frequentemente, isto sempre acontece dentro do contexto histórico que é deixado para segundo ou terceiros planos. Um grave erro.
De maneira idêntica, estes erros acontecem também quando esquecemos de analisar os grafismos utilizados.
Afinal, o texto pode ter autoria de uma pessoa, sendo a escrita de outra pessoa, lembrando sempre, por mais óbvio que seja, que no século I, não havia a tecnologia de hoje.
Por fim, as cartas de Paulo são demonstrações de seu profundo conhecimento teológico e filosófico.
O Apóstolo Paulo
De antemão, não é nada fácil falar sobre o Apóstolo Paulo. Há diversos questionamentos teológicos sobre algumas de suas obras.
A começar pela sua própria origem. Em sua carta aos Filipenses, Paulo afirma ser “hebreu, filho de Hebreus”:
⁵ Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu.
Filipenses 3:5
Mas Paulo nasceu em Tarso, capital da Cilícia, que apesar de estar no Oriente, foi bastante influenciada pelo helenismo.
Tarso, capital da Cicília. (Fonte: Tatiana Popova / Shutterstock)
Posteriormente, Paulo alegou ser um cidadão romano, como falaremos ao estudar a História do Novo Testamento.
Paulo tinha como nome originário Saulo, passando a ser Paulo após a revelação que o levou a crer em Jesus.
A Caligrafia de Paulo
Provavelmente, Paulo foi educado segundo os moldes judaicos, tendo o Antigo Testamento como material didático para aprender a ler.
Em seguida, o Antigo Testamento foi a sua fonte de conhecimento, inclusive e principalmente, para fundamentar a perseguição que fazia aos cristãos, antes da sua conversão.
Nesse período, também deve ter aprendido hebraico e aramaico, o que revela a grandiosidade de seu conhecimento sobre Jesus Cristo.
Primordialmente, é interessante observar o comentário a respeito da caligrafia de Paulo, feita pelo próprio.
¹¹Vede com que grandes letras vos escrevi por minha mão.
Gálatas 6:11
Assim, Paulo possuía “letras grandes”, segundo ele.
Nos textos bíblicos era possível observar uma grande diferença entre a caligrafia de Paulo e a caligrafia do amanuense.
Deve ser dito ainda, que Paulo utilizava técnicas literárias e retóricas comuns aos pensadores gregos.
Dessa forma, é possível identificar a sua autoria intelectual nos textos.
Paulo utilizava técnicas como as diatribes, recurso retórico que consiste em um diálogo com um interlocutor imaginário.
Quem Escrevia os Textos
Primeiramente, temos que saber que era comum nos tempos antigos, que uma pessoa ditasse os seus textos.
Desse modo, o autor de um documento normalmente ditava o texto a um amanuense, aqui sinônimo de secretário.
Em outras palavras, Paulo ditava o corpo da epístola a um secretário.
Este fato ocorreu, inclusive, durante os períodos em que Paulo encontrava-se preso.
Este secretário, ou amanuense, tomava a pena para escrever, o que, por óbvio, conduzia não só a “formatação” do documento, como ainda era bem possível que alguns trechos fossem concluídos de acordo com o pensamento de quem escrevia e não de quem ditava.
Por exemplo, quando ditamos algo para uma pessoa, comumente paramos e pedimos que a pessoa leia o que ditamos para sabermos como está ficando o texto.
Nesse meio tempo, é normal ouvirmos a opinião e a sugestão da pessoa que escreve, mesmo porque algumas palavras também podem ser omitidas ou alteradas durante o ditado.
Antecipadamente, sabemos que Paulo usou um amanuense chamado Tércio para escrever a epístola aos Romanos.
“Eu, Tércio, que esta carta escrevi, vos saúdo no Senhor”.
Romanos 16:22
Nesse sentido, acredita-se que Tércio escreveu para Paulo em, pelo menos, quatro outras epístolas.
Esclareço que a construção do texto em nada interfere na inspiração divina.
Sabemos, por exemplo, que hoje os textos foram interpretados e atualizados. Isto vem acontecendo desde o século I.
Os Textos
Seja como for, a caligrafia de Paulo poderia ser verificada nas observações de conclusão e para dar veracidade ao documento.
Todavia, tudo o que temos hoje são apenas cópias destes textos.
Apesar disso, chegamos a conclusão de que Paulo era estudioso e utilizava bem o material que estava disponível.
Paulo fazia uso dos pergaminhos, em vez de papiros, como podemos observar em seus próprios textos, o que demonstra uma preocupação com a durabilidade dos documentos:
¹³ Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.
2 Timóteo 4:13
Paulo era o Autor Intelectual
A caligrafia de Paulo não estava presente nas cartas, mas o próprio sinalizava a sua autoria.
Esta conclusão é possível porque Paulo menciona, especificamente, que a saudação de conclusão foi escrita com sua própria caligrafia.
Assim observamos em 1 Coríntios:
²¹ Saudação da minha própria mão, de Paulo.
1 Coríntios 16:21
Assim como em Colossenses:
¹⁸ Saudação de minha mão, de Paulo. Lembrai-vos das minhas prisões. A graça seja convosco. Amém.
Colossenses 4:18
Juntamente com 2 Tessalonicenses:
¹⁷ Saudação da minha própria mão, de mim, Paulo, que é o sinal em todas as epístolas; assim escrevo.
2 Tessalonicenses 3:17
Conclusão
A caligrafia de Paulo é pouco conhecida.
Em suma, se tivéssemos as assinaturas das epístolas, poderíamos conhecer melhor a sua escrita.
Contudo, o que temos são cópias das cartas e das epístolas, cabendo ao nosso imaginário como seria esta caligrafia.
Concluímos também que as cartas podem ter sofrido, ainda que de forma bem singela, alguma interferência do amanuense.
Este fato pode ajudar a entender porque muitos teólogos questionam a autoria de algumas de suas epístolas.
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